domingo, 20 de março de 2011

245- Coluna 15 - Coluna do Prof. Jose Luiz Quadros de Magalhães - Existem países ou povos criminosos?

Existem países ou povos criminosos?
José Luiz Quadros de Magalhães

A pergunta pode parecer de fácil resposta com uma negativa simples, mas envolve complexidades históricas importantes. Foi apenas no Concilio Vaticano Segundo, por exemplo, que a Igreja Católica proíbe que se culpe o povo judeu pela morte de Jesus.
A nomeação de grupos tem gerado o que de pior a humanidade tem conhecido. A modernidade trouxe genocídios que encontram no nazismo sua mais radical expressão. O estranhamento do outro, o rebaixamento do outro, sua animalização e coisificação ajudam a compreender não só o fascismo e nazismo, mas a repetição desta radical exclusão em diversos momentos da história moderna como o genocídio de Ruanda; a Bosnia; o extermínio em massa de povos originários pelos europeus na chamada “América”; o extermínio em massa dos povos africanos pelos europeus, também em busca de seus recursos; ou a invasão e extermínio de asiáticos pelos mesmos europeus. Nestes últimos 500 anos foi construída a hegemonia européia, marca da modernidade, onde a cultura e civilização européia se tornaram hegemônicas e foram colocadas para todos como símbolo de civilização.
As constantes intervenções, massacres, conquistas foram sustentadas por justificativas construídas para permitir que estas pessoas (europeus) ou pessoas (invadidas e dominadas) pudessem acreditar ou compreender e se desculpar pelos crimes cometidos. Assim, o assassinato de milhões de indígenas na América foi justificado pelo fato destes não terem alma, não serem cristãos, serem selvagens pecadores. Depois da “América”, nome dado pelos invasores, veio África, depois Ásia e Oceania. As justificativas foram variadas: evangelização, direitos humanos e democracia são as mais comuns.
Esta modernidade européia trouxe as novas nacionalidades, conceito narcisista que faz com que o nacional se afirme sobre o rebaixamento do outro.
São graves as generalizações, as nomeações, uma vez que encobrem os nomes próprios, encobrem milhões de pessoas, cada uma com sua história, sonhos, desejos, medos, frustrações e que não são responsáveis diretas pelos assassinatos promovidos pelos governantes e pelo sistema criado pela modernidade, o capitalismo, que não existiria e não sobreviveria sem os genocídios, as guerras, a desigualdade, a fome e a acelerada destruição ambiental.
Toda esta pequena reflexão é para dizer que os franceses, ingleses e estadunidenses (assim como canadenses, australianos, italianos, espanhóis) não são assassinos. Não se pode dizer que a França, o Reino Unido e os Estados Unidos, ao bombardearem agora a Líbia (para garantir o seu petróleo), e continuarem matando no Afeganistão e Iraque, são países assassinos. Assassinos são seus governantes, assassino é principalmente o sistema econômico que sustenta estes governantes e necessita da destruição, de tsunamis e guerras para se renovar, para se manter.

Março de 2011
José Luiz Quadros de Magalhães

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