sexta-feira, 8 de abril de 2011

271- Coluna do Professor Virgilio de Mattos - A menina que sonhava ser bailarina.

100 dias de Dilma.
Tenho pouco a reclamar, mas muito ainda por esperar, ou: A MENINA QUE SONHAVA SER BAILARINA

Virgílio de Mattos

Agora que já se passaram 100 dias, para desespero de alguns apegados a escusos privilégios, sejam capitanias hereditárias, sejam conglomerados idem, podemos comemorar o trabalho da primeira mulher presidenta do Brasil, Dilma Vana Rousseff.
E que mulher! Embora o sobrenome seja de um “mineirês” ímpar.
Filha de um bem sucedido imigrante búlgaro – órfã de pai os 14 anos - e uma professora primária, no tempo em que as professoras primárias tinham pertencimento e respeito social, ela resgata o pertencimento e o respeito daqueles que não nasceram em berço esplêndido e vida fácil. Sempre ciosa e ciente das desigualdades sociais, desde menina Dilma demonstrava intensa preocupação com as diferenças de classe.
Segundo o The Independent, na bela matéria de Hugh O’Shaugnessy, Dilma lhe confessou sonhar em ser bailarina, bombeira e artista de trapézio. Terá que demonstrar, diuturnamente, todas essas habilidades na Presidência da República. Bailarina na coreografia da maioria duramente conquistada; bombeira ao apagar os incêndios das vaidades mais comuns ao poder e uma verdadeira artista de trapézio ao implementar as reformas que o país tanto precisa e anseia: a agrária, a tributária (em especial na taxação das heranças e da propriedade, em especial o latifúndio) e a política.
Presa política que cumpriu três anos de cadeia, após uma série de inenarráveis torturas, Dilma tem a fibra dos antigos guerrilheiros urbanos que é difícil de explicar o que significa hoje em dia, para uma geração que usa e abusa das liberdades democráticas conquistadas pelas lutas de gente como a nossa presidenta.
Dilma sempre foi uma daquelas mulheres que lutaram todos os dias, daí serem alcunhadas de imprescindíveis pelo poeta Bertold Brecht.
E de tanta luta tem feito um governo considerado aprovado por mais de dois terços dos brasileiros e brasileiras, como ela carinhosamente nos chama.
Poucos sabem que foi Dona Dilma, mãe, e sua irmã, Dona Arilda, que ajudaram a implementar a taquigrafia no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (tá vendo como, às vezes, Criminologia é cultura?).
Esse espírito ligado ao futuro vem no DNA de Dilma, a menina que sonhava em ser bailarina, que conseguiu domar a direita paulistana mais raivosa e perigosa, que conseguiu dobrar o PMDB carguista, que trabalha tranquila com a base aliada que lhe dá sustentação no Congresso Nacional e afastou a mídia sedenta de escândalos.
Falta, Presidenta, trabalhar mais as reformas que o país precisa e espera que você faça. Em especial a prometida erradicação da pobreza extrema, do analfabetismo sem adjetivos – mas sobretudo o funcional – e da exploração do capital especulativo.
Olho com o agronegócio, Presidenta, esses caras são nossos antigos inimigos de classe e não merecem piedade. Aliás, presidenta, que nojo o Aldo Rebelo, heim? Fazendo com gosto um trabalho pra direita que revolta os quadros históricos do partido que ele diz representar.
As mineradoras já exploraram bastante. Que tal dar um basta?
Hora de dizer um “já basta!” àqueles que vêm aqui explorar nossas riquezas naturais e o suor de nosso povo pobre. Hora de erradicar também o latifúndio improdutivo e assegurar recursos à reforma agrária, garantidora da produção de alimentos para consumo e não sustentáculo da economia de commodities.
Na dúvida ou no aperto, aconselhe-se com aquela menina que queria ser bailarina. Foi ela, Dilma, quem instilou em você a possibilidade de ser presidenta.
Não tenho nada a reclamar, mas muito espero desse seu governo. Perco a dignidade, mas não perco a esperança. Aliás, a esperança é a única que morde!

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