terça-feira, 12 de julho de 2011

549- Coluna do professor Virgilio - Escrever é mesmo uma cachaça!

Escrever é mesmo uma cachaça!
A história dessa máquina é uma história triste de fraude, abandono e destruição. Mas é também uma história de superação, como se vê na foto, depois que o Carlão, esse artista, a restaurou.
Penso melhor deixarmos a fraude, o abandono e a destruição de lado e conversarmos sobre superação, palavra mágica no dia-a-dia da gente, esses magos, que tentam construir o único truque válido: a extinção da exploração do homem pelo homem.
Ela é uma antiga Remington, fábrica conhecida pela fabricação de uma outra arma, mais literal ainda do que uma máquina de escrever.
Sempre (começo a colecionar Remingtons e Olivettis não tem 20 anos) pensei nas máquinas que tenho como fábricas de estórias e elas estão comigo pelas suas histórias e não por serem máquinas. Há uma velha Olivetti Lexiton 80 que já escreveu muito verso, não tantos como sua predecessora, que fui obrigado a vender por necessidade do passado, mas já escreveu muita carta (espécie de email que se usava antigamente, cujo provedor era a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, que mandava um cara levar a mensagem na sua casa, imagina isso, mano), algumas suadas de saudade só chegavam ao destino um par de dias depois, com sorte.
Digo que escrever é uma cachaça querendo significar que é mais do que vício ou sacrifício, é prazer. Assim como o prazer do sexo, que não pode prescindir da camisinha nesses tempos de S.I.D.A. e outras “amigas” também grátis (vocês não imaginam a quantidade de sífilis que anda solta por aí também) e incuráveis no sistema “all incluse” se você é besta e não toma suas precauções. Sem sorte a gente não atravessa a rua. Tomara que sua boa sorte não te abandone nunca, mano!
E o que fazem essas saudáveis senhoras bêbadas, sem calcinhas, ao lado da máquina?
Caíram.
Isso mesmo, na modelagem elas estão caídas, de pernas abertas e sem calças, abraçadas a uma garrafa de cachaça.
Por quê?
Pra lembrar que escrever também pode ser degradação, se você escreve o que manda um patrão, por exemplo.
Escrever pode ser uma desgraça.
No meu caso é medicinal. Escrevo pra me estabilizar. No delírio – no contido delírio em que me inscrevo e escrevo – eu penso que você, leitor atento, é meu chapa e que com você vamos construir um mundo menos fedorento pros nossos filhos e netos. Sobretudo, um mundo melhor pros netos dos nossos netos, porque esse negócio de construir mundo, além de dar um trabalho danado, toma tempo.
Só Zé Luizinho de Dona Léa acredita que vamos ver o fim do capitalismo, esse filho da puta – para dizer elegantemente. O combate ao capitalismo é droga sem medicina, nem de índio.
Eu não bebo cachaça desde o longínquo 1982! Fruto de magia, juro, e um pouco de vergonha na cara, creio. Amávamo-nos (gostou?), mas fazíamos mal um junto com o outro. Não sei o que é dela (a cachaça) sem mim, mas minha vida melhorou muito longe dela.
Sigo escrevendo. Cotidianamente. Obsessivamente. Com o coração apertado, dando pulos a cada letra ao lado da outra que forma uma palavra ao lado da outra que forma um período ao lado do outro que forma um parágrafo ao lado do outro que formam capítulos ou partes ao lado da outra.
Escrevo como quem faz disparos. Rajadas curtas em várias direções. Obviamente me movendo o tempo todo enquanto disparo.
As máquinas de escrever e essas santinhas caídas ao lado são metáforas. Algumas de barro, onde me esbarro, outras de finas composições de metal e plástico e ideias que levamos aos parques para passear nessas civilizadas manhãs de inverno.
METÁFORAS: CONSTRUA AS SUAS!
                                                   Virgílio de Mattos


Obrigado Virgilio
Esta outra é muito boa!
Fala Virgilio
Abaixo, o tempranillo espanhol é muito bom e não é caro e o azeite português está sensacional.
Vinho e azeite, alimentos vivos!

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