domingo, 17 de julho de 2011

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Uma jornada. Uma caminhada. A vida é assim, um caminho que se constrói ao caminhar. Não construímos sozinhos e não temos, portanto, a possibilidade de escolher tudo. Podemos sim, construir a nossa vida, mas sempre a partir de escolhas que não são só nossas, de experiências e fatos que não dependem só de nós, mas mesmo assim podemos escolher, podemos construir nossa história, individualmente e coletivamente, até um certo ponto. A história está em nossas mãos, podemos fazer muito desde que não ignoremos o contexto, a vontade dos outros, e sempre se adaptando ao imponderável, ao surpreendente.
Os filmes a seguir falam de jornadas. Qual o final? Impossível saber. O caminho se faz ao caminhar e é o relevo, o clima, o tempo que vão determinando juntamente com a nossa vontade, e a vontade das pessoas, a direção do caminho que se constrói.

            O primeiro filme mostra uma jornada até a Romênia. No caminho as pessoas se descobrem se revelam. Qual é o lugar de alguém. Os lugares são muitas vezes determinados pelos outros, pela religião, a nacionalidade, a família. Pode ser que o lugar em que colocamos o outro não seja o lugar que ele está, ou gostaria de estar, se pudesse opinar. Meu lugar não é onde querem que eu esteja, nem mesmo onde eu quero que seja, muitas vezes o lugar de cada um é determinado pela jornada que a vida nos propõe, nos leva, mas certamente o lugar de cada um não é o que outro arbitrariamente coloca.
            O filme é repleto de um simbolismo maravilhoso e nos lembra de forma inteligente e bem humorada que os valores indicam caminhos, relações e compreensões. O filme nos mostra, principalmente que há valores outros que o dinheiro, valores que podem ser quase incompreensíveis no mundo do dinheiro, do consumo e do pragmatismo exacerbado.
            Interessante isto: o tempo todo nós valoramos (atribuímos valor) às coisas, às pessoas, aos fatos, ao que ouvimos e vemos. Esta função permanente de valorar, significar (atribuir sentido) é determinada pela cultura (pela cultura familiar, pela cultura local, nacional, religiosa, etc), pelas experiências vividas, nas mais diversas relações que se estabelecem na vida das pessoas, na vida de cada um. Interessante como determinadas coisas que parecem totalmente sem valor, sem sentido para alguns, é repleta de significados importantes que se colocam muitas vezes acima daquilo que para nós seria mais importante. O que não é sequer percebido por alguns é muito importante para os outros. O filme nos lembra isto, todo o tempo e mais: o respeito aos valores e ao lugar de uma pessoa morta é muito importante para os vivos. Experimentem este filme. É uma reflexão importante para uma sociedade onde o valor supremo se tornou o sucesso, o dinheiro e o pragmatismo como meio para se conseguir dinheiro e sucesso.
            Em uma sociedade onde o valor maior é aquele atribuído pelo dinheiro, este filme pode parecer incompreensível.
UMA MÚSICA ANTES DE PROSSEGUIR:
PARA VER O FILME:

O segundo filme abaixo também é uma jornada de descoberta. O caminhar é mais importante que o chegar, pois é na caminhada que aprendemos. E toda chegada é o prenuncio de uma nova partida. É isto que nos mantém vivos. Não há um lugar para se chegar e ficar. Ainda bem que o ponto de chegada é também o ponto de partida (ouça a música acima).
O segundo filme é “A pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine)”.
Um muito inteligente e bem humorado filme sobre diversidade, relacionamentos e especialmente sobre carinho, amor, reconhecimento dentro de uma sociedade que uniformiza, sufoca e cobra uma “perfeição” que só reforça a negação da diversidade. Ora, como evitar a violência e celebrar a diversidade em uma sociedade que de forma permanente cobra comportamentos padronizados incentivados pela competição e pela escolha do melhor, melhor este que é, claro, aquele que melhor se adapta ao padrão.
Boa diversão e reflexão neste excelente filme:
PARA VER O FILME: 

 O terceiro filme, a terceira jornada:


A Estrela Imaginária (A Stella Che non C’é) é uma jornada pela China, partindo de Xangai passando por lindas paisagens pela zona rural. Um engenheiro italiano descobre um defeito em uma peça de uma das caldeiras recentemente vendida para China pela empresa em que ele trabalhava. De forma obstinada ele procura a peça pelas fábricas na China.  
Trata o filme de valores em transformação. A velocidade das mudanças no mundo da tecnologia com repercussão nas relações sociais vem transformando seres humanos em peças obsoletas. Mais uma jornada de aprendizado em que o engenheiro italiano, distante de sua terra, compartilha com uma tradutora chinesa. Valores distintos e mudanças que atropelam valores que resistem ao pragmatismo a produção vertiginosa em direção ao “crescimento”. Este “tsunami” produtivo para abastecer a sociedade de consumo (a sociedade do desespero) leva com sua fúria muitas pessoas, histórias, experiências, sonhos, desejos e esperanças. As pessoas se tornam peças rapidamente obsoletas.
FINALMENTE A QUARTA JORNADA DESTA SEMANA:
O filme “Incêndios” que ainda pode ser visto nos cinemas.
Toda a insanidade da guerra, das nomeações de grupos que dividem pessoas. Um véu na cabeça ou crucifixo no pescoço, apenas isto, pode significar a vida ou a morte.
A corajosa jornada de dois irmãos (uma mulher e um homem) em busca do passado de sua mãe que acabara de morrer e do seu irmão desaparecido. Como nomes coletivos podem importar tanto? Cristão, judeu, muçulmano, divididos em subgrupos que se matam na terrível guerra que se travou no Líbano, e levou pessoas a se odiarem em vinganças intermináveis, de geração em geração. Toda a racionalidade se perde. Até onde uma pessoa pode resistir à insanidade do ódio, do estranhamento, da exclusão e assassínio do outro por uma mera convicção, por um símbolo, um colar, um véu, um nome.
Como os laços de família, irmão, irmã, pai e mãe podem mudar relações estabelecidas por outras nomeações coletivas? Mas afinal não somos todos irmãos, irmãs, pais e mães? E então, porque nos matamos? Precisamos descobrir, afinal, que o outro é nosso irmão e talvez pai, mãe e irmã. Nomes, significados e crenças. Qual o limite do absurdo? Qual o limite da tortura? Qual o fundamento da barbárie?


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