quarta-feira, 3 de agosto de 2011

610- Cinema - Vanilla Sky e Sonhando acordado



A fuga do real é para alguns.

O filme Vanilla Saky (2001) retoma o mundo construído artificialmente na mente, mas agora de forma deliberada, como opção individual de viver em um espaço artificialmente construído como forma de negar uma vida real insuportável.
Os recursos tecnológicos a disposição da representação do real também estão presentes neste filme. O filme trabalha com o oposto da busca do real. O filme fala da fuga do real. Quando o real se torna insuportável, intolerável, quando não conseguimos olhar para o real. Quando o real ofende nossos olhos, agride nossa razão, acaba com a estima humana, alguns fogem. Escolhem a fuga. É melhor esquecer o real e viver em uma realidade programada. A escolha do irreal, de viver na representação existe e ocorre. O filme provoca. Mas a escolha de viver na representação programada não é para todos, pois, se fosse não seria mais representação e sim realidade uma vez que não seria mais necessário fugir. A escolha da representação programada existe para se fugir do real e existe para alguns: por isto é representação falsa da vida.
Nas palavras de ZIZEK[1]:
“Porque a verdadeira lição da psicanálise não é que os eventos externos que nos fascinam e/ou perturbam sejam apenas projeções de nossos impulsos internos reprimidos. O fato insuportável da vida é que realmente há eventos perturbadores lá fora: há outros seres humanos que vivenciam intenso prazer sexual enquanto somos meio impotentes; há pessoas submetidas a torturas terríveis... Reiterando, a verdade máxima da psicanálise não é descobrir nosso próprio Eu, mas o traumático encontro com um insuportável Real.”
Mas não há segurança no mundo virtual. A felicidade pode ser comprometida pelo subconsciente. Nem tudo está sob controle. A segurança e a felicidade fundada no controle têm limites. A felicidade produzida é perfeita demais. São estereótipos. Clichês. O personagem ao final escolhe o real. Mas será que ele já tinha vivido o real? O real para ele foi talvez a ruptura com a sua vida perfeita, rica. A ruptura traumática com sua aparência perfeita, bela. Mesmo na construção da vida virtual perfeita esta foi construída sobre os valores superficiais que pautavam sua vida antes do trauma. A vida virtual era propositalmente artificial: ela não tentava imitar o real. Era propositalmente uma imitação romântica, artificial, perfeita, do real. Uma representação que não tinha a intenção de representar o real, mas, uma idealização do real.
Diferente a proposta do filme “Sonhando Acordado – sonhar é acreditar” com Gwyneth Paltrow, Martin Freeman, Danny de Vito e Penélope Cruz (Califórnia Filmes). A rotina de uma vida sem interesse, sem perspectiva e planos leva um musico talentoso, que já fez sucesso a se refugiar nos sonhos. A crença na possibilidade de controlar os sonhos, e o encontro com uma mulher maravilhosa nestes sonhos leva o musico a investir no sono: paredes escuras a prova de som, colchão confortável... O refugio dentro de si mesmo e a crença na possibilidade de controle da estória para uma felicidade e perfeição permanentes que entretanto não são alcançadas. Não há controle possível. O sonho e o estado de vigília se fundem em sua realidade, onde não é possível fugir dos impulsos da vida.


[1] ZIZEK, Slavoj. Às portas da revolução – escritos de Lênin de 1917, Editora Boitempo, São Paulo, 2005, pag. 178.



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