segunda-feira, 12 de setembro de 2011

683- Clima de deserto em BH pode piorar - Coluna do Frei Gilvander


Clima de deserto em BH pode piorar

Estudo da UFMG mostra que Belo Horizonte registra aumento da temperatura e queda na umidade do ar. Causas: crescimento de edifícios e diminuição de áreas verdes formam ilhas de calor na cidade. Mais: A 1ª CPI da ALMG demonstrou que a Mineradora MBR, hoje, Mineradora VALE, ao minerar a Serra do Curral, na Mina Águas Claras, deixou uma imensa cratera na Serra do Curral, atrás do Parque das Mangabeiras, e destruiu 600 metros de Serra do Curral. Resultado: Belo Horizonte era uma das 9 cidades protegidas contra poeira e tinha um clima temperado, fresco. Pela ação da Mineradora, a ONU retirou BH dessa lista e, de 1975 para cá, o clima vem esquentando ano a ano em BH. Basta de devastação da biodiversidade.
Eis mais um grande argumento que temos para não aceitarmos que a Construtora Rossi e nenhuma outra empresa devaste a Mata do Planalto, um grande pulmão de BH. Lutamos pela desapropriação da Mata do Planalto e pela transformação dela em Reserva Ecológica ou em Parque Municipal. Abraço na luta. Frei Gilvander - www.gilvander.org.br


Estudo da UFMG mostra que BH registra aumento da temperatura e queda na umidade do ar. Crescimento de edifícios e diminuição de áreas verdes formam ilhas de calor na cidade
Publicação: 11/09/2011 07:24 Atualização: 11/09/2011 07:28
Capital registra tendência de aumento na temperatura de 0,2 grau a cada 10 anos, segundo meteorologista Ruibran dos Reis.
Atire a primeira pedra quem não reclamou ou ouviu queixas sobre o tempo seco e o calor nos últimos dias em Minas Gerais. Não chove há 93 dias em Belo Horizonte, que teve ontem o dia mais quente do ano, com 34,1 graus e umidade relativa do ar de 13%, índice comparado ao de desertos. Em agosto, a umidade chegou a 12%, o mínimo já registrado na capital. Ituiutaba, no Triângulo Mineiro, teve índice de 5%, o mais baixo em um século de coleta de dados pelos serviços de meteorologia. A razão dessa semana de recordes, sentida na pele por quem esteve debaixo de um sol de lascar, divide especialistas. Enquanto uns encaram o “clima Saara” na terra de montanhas como resultado do aquecimento global, outros tratam o pico de secura como uma variação dentro da normalidade para o fim do inverno, causada pela aproximação do anticiclone do Atlântico Sul ao continente e intensificada pelo concreto e o asfalto que recobrem as cidades.
Mas, seja qual for a versão mais acertada, elas convergem ao traçar um prognóstico nada positivo: o que os mineiros viveram nesses últimos dias é apenas uma amostra do que está por vir, pois, se mantida a combinação de menos áreas verdes nas cidades e mais construções, o indicativo é de um futuro quente e seco. E, de acordo com o 5º Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia (Disme/Inmet), os mineiros continuarão em clima desértico pelo menos até meados deste mês. Amanhã, a situação deve aliviar um pouco, com a passagem de uma frente fria pelos litorais do Rio de Janeiro, São Paulo e do Espírito Santo, que aumentará a umidade relativa do ar e o declínio das temperaturas em Minas.
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Os termômetros vão baixar para 29 graus no início da semana e a umidade deve ficar em torno dos 40% em BH, ainda abaixo do índice de 60% recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No entanto, para além dos próximos dias e ao olhar para os anos que vêm pela frente, a previsão do coordenador do Centro de Meteorologia Minastempo, Ruibran dos Reis, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas), não é nada otimista. A partir de modelos meteorológicos, ele estima recordes em Belo Horizonte, em 2030, de 38 graus em setembro, mês em que a temperatura máxima marcada pelos termômetros na década de 1970 ficava perto dos 31 graus. Neste mês de 2011, a previsão é de até 35 graus na capital. Desde o dia 1º, a temperatura mais quente registrada tinha sido na sexta-feira, quando BH chegou aos 33,3 graus.
“Ao analisarmos os gráficos, percebemos uma tendência do aumento em BH de 0,2 grau a cada 10 anos, que coincide com os gráficos do aquecimento global. Esse é um crescimento significativo, considerando que a temperatura do planeta subiu 0,6 grau nos últimos 100 anos”, afirma o especialista, apontando a relação desse fenômeno com o aquecimento global, provocado pela emissão de gases do efeito estufa na atmosfera, que impede a dissipação do calor. “Infelizmente, o clima de BH, que, no passado, foi úmido e frio, tende a piorar mais. Em 10 anos, vamos observar umidade relativa do ar de 6% a 7%. Acredito que isso tenha relação direta com o aquecimento global”, diz.
ILHAS DE CALOR - Estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com base em dados meteorológicos de Belo Horizonte referentes ao último século, aponta queda de 7% da umidade relativa do ar e aumento de 2,7 oC da temperatura mínima, que saltou de 15,2 oC para 17,9 oC. Sem deixar de lado repercussões de longo prazo no clima, como as mudanças na temperatura dos oceanos e no clima global, a pesquisa atribui a alteração, principalmente, ao aumento da verticalização da cidade, sobretudo a partir de 1980, quando a capital mineira acelerou a substituição de quintais e áreas verdes por edifícios.
O professor do Departamento de Geografia da UFMG Carlos Henrique Jardim, especialista em climatologia, destaca que situações atípicas como a vivida na semana passada são desvios em relação à média, mas estão dentro de uma normalidade observada no fim do inverno, em que o clima costuma ficar seco e quente. “Os desvios sempre ocorreram e vão continuar acontecendo. O que temos que pensar é a forma como a sociedade está organizada para absorver esse impacto”, afirma.
De acordo com ele, a urbanização das cidades reforça os efeitos do clima de forma local e as transforma em ilhas de calor. “E, quanto mais calor, menos umidade. A tendência é que, pontualmente, o impacto seja pior não porque o clima mudou, mas porque o lugar mudou. São prédios para todo lado, construídos em detrimento das áreas verdes, que são fontes de umidade para o ar. Os rios são canalizados e tampados, o que também diminui as fontes de evaporação”, afirma o professor, descrente sobre a influência direta da ação humana no aquecimento do planeta. “As séries de dados meteorológicos do país não vão muito além dos 120 anos, um período curto para avaliar mudanças climáticas. Se recorrermos a dados de satélites, observamos uma tendência geral de esfriamento da Terra”, diz, fazendo uma previsão para daqui a milhares de anos.
Anticiclone inibe chuvas Anticiclone do Atlântico Sul. O nome é complicado, mas o efeito do sistema de alta pressão localizado no Oceano Atlântico foi sentido na pele em Minas Gerais na semana passada. O tempo mais seco e quente nos últimos dias foi provocado pela aproximação do anticiclone ao continente. A avaliação é de meteorologistas que tratam o tempo desértico como um pico que acentuou as características do fim do inverno, mas sem fugir do padrão. Essa turma não relaciona a queda brusca da umidade do ar e do aumento da temperatura com as mudanças climáticas que seriam provocadas pelo aquecimento global.
De acordo com o meteorologista Claudemir de Azevedo, do 5º Disme/Inmet, nos últimos dias, houve a intensificação da atuação desse sistema, que leva à formação de massas de ar seco e quente. “Ele sempre atua no inverno, em alguns anos com mais intensidade”, explica. O coordenador do 5º Distrito do Inmet, Lizandro Gemiacki, esclarece que o anticiclone é uma região da atmosfera em que o ar faz movimentos de descida. “Ele oscila em sua posição e, quando se aproxima do continente, inibe a chegada das frentes frias e causa esse tempo seco. O anticiclone age aqui inibindo as chuvas”, explica.
Sem fazer conjecturas, Lizandro ressalta que os recordes de baixa umidade relativa do ar constatados em Minas também se relacionam ao aprimoramento das técnicas de medição climatológicas. Ele ressalta ainda que a memória da população em relação a seca, calor, chuva ou frio extremos tende a ser curta. “Já tivemos outras situações no passado de seca forte. Em 1962, ela foi violenta em BH. Só choveu 800 milímetros, quando o comum é 1,4 mil.”

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UMIDADE DO AR

           É a quantidade de vapor de água contida na atmosfera. Ao subirem para a atmosfera, as gotículas de água se concentram, formando nuvens. Ao se resfriar, a água se precipita, em forma de chuva. A umidade relativa do ar é a relação entre a quantidade de água existente no ar e a quantidade máxima que poderia haver, naquelas condições. A umidade relativa do ar é inversamente proporcional à temperatura. A massa de ar seco e quente funciona como uma esponja numa superfície úmida. Ela tem muita capacidade de reter água, tirando-a da superfície e transformando-a em vapor.

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Daqui para o futuro

Aquecimento global em MG

           A Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), abriu edital para desenvolvimento de estudos que possam atestar os efeitos do aquecimento global no estado. “A tendência dita pela ciência é que o aquecimento global provocado pelo homem tende a aumentar os eventos em magnitude, tanto em força quanto em frequência. Minas e Belo Horizonte estão dentro dessa tendência, mas é preciso ainda evoluir nas pesquisas para realmente afirmar qual é esse impacto”, afirma o gerente de Energia e Mudanças Climáticas da Feam, Felipe Nunes. Apesar da imprecisão sobre os efeitos locais das mudanças climáticas, a tentativa é de já atenuar esses possíveis impactos. “Estamos tentando encontrar caminhos, como modelos de energia renovável, e fazendo o registro público de emissão de gases de efeitos estufa”, esclarece Felipe.

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