terça-feira, 4 de outubro de 2011

730- A Justiça está chegando? - Coluna do professor Virgilio Mattos


A JUSTIÇA ESTÁ CHEGANDO?
        Virgílio de Mattos
Um dos melhores amigos que se pode ter sempre vê a realidade com olhar otimista. Pensou que a Carta Constitucional de 1988 era, de verdade, uma ‘constituinte cidadã’. Acredita, de forma intransigente, que até eu assistirei ao fim do capitalismo. E vai levando sua vida e a vida de sua família com jornadas de trabalho de final do século XIX, sempre rindo e gesticulando de um jeito muito especial. A voz está ficando cansada, está muito magro, com profundas olheiras e ficando um pouco verde (esverdeada a cor da pele em um tom preocupante, não somos seres movidos a clorofila e nem realizamos fotossíntese).
Esse amigo – um dos grandes e raros amigos vivos que tenho, eu que sou de tão poucos amigos – me disse que JUSTICE IS COMING e eu penso que isso não pode ser verdade. Esse amigo é muito ingênuo e não consegue dizer não, nem no hospital conseguia dizer não. Um problemão esse.
Raciocino assim, de que a Justiça só vem depois da Revolução, não por duvidar do meu amigo querido, mas por perceber que os sinais são outros. Vejo os mais de 30 mil funcionários públicos gregos com o desespero da demissão anunciada; vejo os manifestantes pacíficos do Marco Zero em Nova Iorque (donde la libertad es una estatua, como dizia Nicanor Parra, meu antipoeta predileto) sendo presos na Tahir estadunidense; vejo a Comissão da Verdade e da Justiça que não produzirá nem uma nem outra coisa e vou ficando cansado – eu que sou um moderado otimista, para copiar o inesquecível Prof. Sandro Baratta – de tantos sinais inequívocos de que a justiça está lejos, lejos, lejos como se estuviera en la eternidad.
Vejo um preocupante exemplo de que a justiça segue sendo injusta com os lutadores sociais. Tá bem. Tá certo. A justiça burguesa sempre foi injusta com os lutadores sociais. Todo preso continua sendo preso político, embora os antigos presos políticos da resistência contra a ditadura militar tenham um pouco de dificuldade com esta afirmativa. Embora a maioria tenha dificuldade em perceber que a única diferença entre o preso comum e o preso político é a de que o preso comum é também preso político, só que nem ele mesmo sabe disso.
Seguimos.
Sabemos que a prisão não é solução pra vida, além de querermos outra saída sabemos que a prisão é um outro problema e não parte da solução.
Seguimos com o duro exemplo, na España, de TAMARA HERNÁNDEZ HERAS, presa em 15 de dezembro de 2009, em Getafe (Madrid) acusada de enviar uma carta bomba a Albert Batlle, àquela época diretor do Serviço Penitenciário ( Serveis Penitenciaris ) da Catalunya. Antes de chegar a seu destino o pacote foi interceptado pela polícia e explodido.
Depois de ter passado quatro meses presa (em Brians I), longe de tudo e de todos, Tamara foi posta em liberdade. A perícia demonstrou que o pacote não tinha capacidade letal.
Passados dois anos, em 14 de setembro de 2011, o Ministério Público pede 16 anos de prisão por “homicídio tentado” e propõe um acordo para que Tamara cumpra 8 anos de cadeia. Acordo aceito ao argumento de que não aceitá-lo implicaria em uma condenação ainda maior, dadas as circunstâncias adversas e ingerências políticas que rodeiam o caso.
Tamara está em liberdade provisória a espera de um indulto que poderá reduzir sua condenação.
Tamara, escucha tu lucha es nuestra lucha!

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