quarta-feira, 12 de outubro de 2011

755- EUA: passeatas populares e violência policial - Coluna do professor Alexandre Bahia


EUA: passeatas populares e violência policial 

por Alexandre Bahia

Há alguns meses temos nos maravilhado com a “Primavera Árabe”: povos oprimidos por ditaduras obscuras – boa parte delas financiadas/apoiadas pelos EUA, como o Egito, ou por países Europeus, como a Líbia – se levantaram e depuseram seus ditadores. Só isso já é assunto para anos de literatura em Direito, Sociologia e Ciência Política.
A surpresa, no entanto, vem sendo a – pouquíssimo divulgada – “Primavera Americana”. Aliás, esse era até o título original do presente. No entanto, depois do que assisti hoje achei melhor dar ênfase no movimento pelo paradoxo que é a ação de policiais diante de manifestações pacíficas no coração da “democracia”, pelo menos, segundo a imagem que eles, os norte-americanos, “vendem” para o mundo.
Mas vamos ao começo: há várias semanas vêm se avolumando protestos e manifestações pacíficas de americanos primeiramente em Wall Street (centro comercial de Nova Iorque e, por que não, do mundo) contra, de um lado, os lucros exorbitantes dos grandes investidores internacionais e, de outro, contra as medidas tomadas pelo Governo para conter a “crise mundial”, isto é, cortes sociais. Ou seja, enquanto os grandes investidores recebem ajuda governamental para reparar “perdas” que tiveram, a população tem de arcar com os custos.
Como diz trecho do 1º Manifesto do movimento: “que o futuro da raça humana exige a cooperação de seus membros; que nosso sistema deve proteger nossos direitos e que, ante a corrupção desse sistema, resta aos indivíduos a proteção de seus próprios direitos e daquelas de seus vizinhos; que um governo democrático deriva seu justo poder do povo, mas as corporações não pedem permissão para extrair riqueza do povo e da Terra; e que nenhuma democracia real é atingível quando o processo é determinado pelo poder econômico. Nós nos aproximamos de vocês num momento em que as corporações, que colocam o lucro antes das pessoas, o interesse próprio antes da justiça, e a opressão antes da igualdade, controlam nosso governo...”.
É a velha lógica: privatizam-se os lucros e socializam-se os prejuízos. Já assistimos a isso no Brasil, em menor escala à época em que o Governo de Fernando Henrique destinou milhões de reais para ajudar os Bancos falidos – diga-se de passagem, “bancos falidos” e banqueiros milionários...
Perceba-se que, a revolta da população está, inclusive, no fato de que os grandes investidores internacionais sabiam dos riscos de suas operações – tanto é que ganharam enormes lucros justamente por isso. E, quando o que era arriscado ocorre, vem o Governo e os auxilia!
Se o levante de meia dúzia de pessoas num país periférico de terceiro mundo é tão noticiado pelos meios de comunicação, o que se esperar de algo num país como os EUA? Bom, mas ao contrário do que pareceria óbvio, “estranhamente” os grandes meios de comunicação passaram semanas sem dizer NADA a respeito!!!! Só agora é que começam as notícias, pequenas notas. Nos EUA, órgãos de imprensa conservadora como a FOX têm taxado os movimentos de “anarquistas, comunistas e anti-americanos (?)”. Alguns poucos como a NSBC ousam mostrar o outro lado.
E o outro lado é estarrecedor: a polícia tem sido usada para, de forma violenta, desbaratar o movimento. Centenas têm sido presos. Estivéssemos falando da mesma ação num país árabe e todos os jornais do mundo estariam estampando tal notícia, indignados. Estranhamente, no entanto, a maioria permanece silente quanto aos EUA.
As mobilizações têm crescido noutras cidades americanas e agora ganham também adesão em outros países – inclusive o Brasil. No site < http://15october.net/> pode-se ter uma ideia do tamanho do movimento. Aliás, de forma semelhante ao que ocorreu na “primavera árabe”, na versão “americana” também a internet e, particularmente, as redes sociais têm sido responsáveis por grande parte da mobilização.
De toda sorte, no País da “democracia” e da “liberdade de expressão” (pelo menos é o que, repito, eles “vendem para o mundo”, ainda que à força), os americanos estão aprendendo, da pior forma, que contrariar os interesses dos multi-bilhionários pode custar caro.

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