domingo, 2 de setembro de 2012

1236- Cinema em Família - coluna do professor Virgilio


CINEMA EM FAMÍLIA
         
        Virgílio de Mattos

Que sorte a nossa existirem Isa Grinspum Ferraz e sua sensibilidade. Foram elas, a sensibilidade e Isa, que nos apresentaram o extremamente correto e bem feito MARIGHELLA, o filme. Mano Bronw fez a canção.
Em tempos tão sombrios de neoliberalismo e indigência cultural reflexiva, assistir ao autoral MARIGHELLA é um alívio comparado à água filtrada e gelada em insuportáveis tardes calorentas nesse nosso final de falso inverno, com temperaturas acima dos 30º.
O filme de Isa, que é aula de cinema e de família – que sempre pode ser menor célula repressiva do Estado; ou, como no caso do filme: um coletivo unido e solidário, tanto nas adversidades, quanto nos momentos mais felizes. Ela conseguiu fazer, com as lembranças da infância, muito mais do que um emocionante relato pessoal. Fez com que todos nós, que tivemos a sorte de não termos sido trucidados pela ditadura empresarial-militar, pudéssemos refletir sobre família e cinema, sobre coletivo e repressão (qualquer que seja ela).
É um filme que, contando a história do tio mais famoso de Isa, nos conta a história do Brasil. Filme que deve ser visto, revisto e discutido.
Algumas passagens emocionam até estátuas de bronze. Clara Charf, viúva de Marighella, chorando e relembrando a advertência feita pelo querido companheiro sobre a clandestinidade, a de que não deveria sorrir em público, porque seria facilmente identificada por aquele sorriso que encanta até hoje. Clara chora ao lembrar que “nem sorrir a gente podia”.
Teve gente que ficou com os olhos cheios d’água.
Como faz falta, hoje em dia, pessoas tecidas com o mesmo fio da fibra de Marighella.
Seu célebre “ou tá com o Coletivo, ou tá com a Casa”, dentro de condições drásticas de encarceramento no Presídio da Ilha Grande-RJ, é de uma atualidade preocupantemente atual: ou ‘nego’ tá com o ‘Coletivo’, com a resistência à mesmice; ou tá com a ‘Casa’ do consumismo, sem fim ou limites, e demais pilares do conservadorismo.
Assista o filme em sua cidade.

Em Belo Horizonte a estreia foi ontem e está em cartaz no  Belas Artes 3, às 14:40,  19:15 e  21:30. 100min. Indicação de idade 10 anos.

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