quinta-feira, 9 de outubro de 2014

1457- A dentista do Ailton voltou dos Estados Unidos - Coluna do professor Virgilio de Mattos

A DENTISTA DO AILTON VOLTOU DOS ESTADOS UNIDOS
                            

Virgílio de Mattos[1]


Eu tenho um medo danado da dentista do Aílton. Não que não tenha medo de outros profissionais da odontologia, tenho sim, mas a dentista do Ailton me infunde um terror especial que me faz ficar preocupado quando soube que ela tinha voltado dos Estados Unidos, onde foi, seguramente, derreter o que toma de seus clientes, do Aílton inclusive, nas lojas e nas liquidações da ilha de Manhatan, que desde Carlos Drumond de Andrade os poetas tentam explodir sem sucesso.
A dentista do Aílton trouxe um monte de roupas espalhafatosas, mas in, cosméticos made in USA e até pasta de dente que ela jura que todo mundo usa. Cansada mesmo ficava de não conseguir se fazer entender em Nova Iorque, que tem pouco tempo ela descobriu ser uma ilha: “Eu tenho um inglês tão bom quanto o da Carmen, do nono andar, mas assim como ela ninguém me entende também. Essa gentinha que atende a gente tinha que se profissionalizar para atender a gente diferenciada”. Ela adora a expressão “diferenciada” que serve pra tudo, desde comida até gente.
Arrebentou o cartão de crédito e terá uma grande e desagradável surpresa quando for pagá-lo, porque o seu candidato, agora no segundo turno, que ela jura ser um Juscelino “repaginado” (o que diabos ela queira dizer com isso, mas é uma expressão que ela também usa pra tudo), já fez o dólar estadunidense subir mais do que a pressão de pobre balançando de raiva nos ônibus superlotados depois do serviço. E ela disse que “depois pensa nisso”. Lógico que vão controlar a inflação e melhorar a economia sem esses comunistas do PT (ela jura que o PT é um partido de comunistas).
A dentista do Aílton tem o seu lado pândego também, quando anda em ambientes fechados, o que se pode notar já a distância pelo “toc-toc-toc” nervoso do salto alto trotando e pelo tilintar das pulseiras “não uso bijou não, cê tá doido? É tudo ouro, ouro, ouro”; ela jura que “essa gentinha”, isto é, o país todo que não pensa e não consome como ela, deveria ‘ir para Coréia do Norte ou pra China, que é lugar de comunista”.
Embora ache muito in azul com amarelo, ela tende a não participar das carreatas pagas pelo seu candidato, “porque mistura muito, tem de tudo, até gente que a gente vê que não é do nosso nível”. E ela, afinal, que sempre estudou nos melhores colégios particulares e só fez “odonto na Federal, pagava uma mixaria, o desagradável era não ter garagem coberta, o carro ficava todo empoeirado” porque “tinha muita gente diferenciada, de nível, mas é lógico, né, uma ou outra gentinha”.
A dentista do Aílton só ficou apavorada quando percebeu que Jéssica Neydiane, sua empregada, “meio lerda, coitada, mas uma leoa pra trabalhar”, havia comprado um celular, desses de passar o dedo, melhor do que o dela. –“É chinês ou paraguaio?” Perguntou com uma ponta de inveja que até o retardado do marido sabia identificar. - Uai, isso eu não sei dizer, não senhora, o moço da loja me garantiu que era o melhor que tinha e como eu já paguei a prestação da casa, meus filhos estão todos estudando nas escolas técnicas federais e o carro, a máquina de lavar e a televisão maior do que essa que tem aqui na sala da senhora já tá tudo pago, eu pensei: vou comprar um telefone desses de ficar passando o dedo, já fui até pra Cancun de avião e não gosto mesmo de viajar...”
“Ah, que ódio. Pobre andando de avião...”  Rosnou pra si mesma.
A dentista do Aílton jura que, se houver um novo governo do PT ela vai morar em Miami, aliás, como o advogado dela já ameaçou fazer.
Vote Dilma! Vote 13! Faça com que a dentista do Aílton, o advogado dela e o pessoal “diferenciado” amigo deles tenham uma boa viagem só de ida pra Miami.
Fora com essa canalha, o Brasil pra quem trabalha!

(PS.: Todos os personagens são reais. Um abraço pro Aílton e um pedido à dentista dele: não volte!)



[1] - Professor universitário. Trabalhador desde os 14 anos de idade. Tem orgulho de sua origem de classe.

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