POR QUE VOTEI DILMA?
Virgílio
de Mattos[1]
Acredito que
quem me conhece, minimamente que seja, saiba a resposta, mas escrevo este texto
exatamente para aqueles que não me conhecem e nem suspeitam quem eu seja.
Votei
Dilma para ser coerente com minha história pessoal. Para respeitar meus mortos,
tanto os pessoais, quanto os coletivos, perseguidos desde o Estado Novo por
Doutor Getúlio. Pelos torturados, tanto os de minha família, quanto os das
famílias dos outros que eu sequer conheço.
Votei
Dilma porque me organizei contra a ditadura militar aos 14 anos e desde aquela
época, vivi um longo tempo com o medo me mordendo os calcanhares e me roendo as
esperanças. Sempre avançando, às vezes como um destroço, noutras como um
náufrago, mas sobrevivendo sempre.
Votei
Dilma porque ainda existem analfabetos (não os políticos e nem os funcionais)
absolutos neste país, como eram os meus avós. E que sempre colocaram muita fé
em mim (como fazem sempre os avós em relação aos netos), que eu iria ser um ser
que ensina, o que transformei em profissão.
Votei
Dilma porque “amo a uma mulher clara que
a mim me ama sem pedir nada, ou quase nada, o que, se não é o mesmo, é igual” ,
como diz a canção; e estou absolutamente seguro que ela não me permitiria mais
na vida dela se, num surto psicótico – do qual quase ninguém pode dizer que
está livre – tivesse que obedecer às vozes dizendo: Vota na direita! Vota no playboy!
Votei Dilma porque
tenho compromisso e orgulho de classe e sei que na hora do mais fundo desespero
quem vai salvar você é a sua origem de classe.
Votei
Dilma em homenagem aos meus amigos que são professores e professoras, aos alunos
e alunas. Tanto os antigos, quanto os presentes, quanto aos que virão.
Votei
Dilma porque jamais cogitei outro voto, mesmo sabendo que a prática
desenvolvida nos últimos quatro anos, na maior foi uma prática de centro, o que
me irrita muito, mas que tento compreender.
Votei
Dilma pelos seus acertos no atacado, mesmo entendendo que alguns erros no varejo
seriam passíveis de serem evitados.
Votei
Dilma na esperança da lei de mídia, da reforma política, no avanço da saúde e
educação.
Votei
Dilma porque não tenho medo dessa direita raivosa que pensou que poderia
intimidar a nós, os sobreviventes.
Votei
Dilma para mandar um recado curto e grosso a “essa gente”: tua pose e tua
posse, vocês cuidem aí direitinho, viu? Vocês só têm a perder, seus sacanas!
[1]
- Um desconhecido professor do interior de Minas Gerais. Há décadas acredita
que homem pode vir a ser amigo do homem e não patrão do homem.
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